Água: Fonte de Vida

   

Rio Bestança (um dos menos poluídos da Europa)

        Sob a guarda da venerada imagem do Senhor do Amparo que se acolhe em capela resguardada por grossas paredes de granito fustigadas pelo vento, em plena Serra do Montemuro, num sítio chamado "Paredes", recebendo "augueiros de três barronquinhos", nasce o rio Bestança qual ténue fio de água emergindo de entre tojos e urzes até formar um regato de água cantante.

 

 

Rio Bestança       Rio Bestança

 

 

        Da foz, em Souto do Rio, se lhe vê a nascente dado o longitudinal Vale encaixado que ao longo de milénios a água foi sulcando rompendo persistentemente o embaraço de cerros e a aspereza da penedia que se lhe opunha.

        Ao fundo de Alhões, já mão humana teve de construir um pontelo de lajes aplanadas de margem a margem por sob as quais as águas correm bravas no Inverno fruto da chuva ou do degelo das neves que cobrem as cumeadas da serra. Já aqui, na ponte velha de Alhões, o Bestança corre apressado por entre pedras num leito mais largo e mais limpo de vegetação. Aqui encontra também o seu primeiro ribeiro tributário, o ribeiro de Alhões, que nasce próximo das planuras do Talegre e Cascadabulhal, no Chão do Redondo, descendo depois a Costa da Cabra onde faz mover alguns rodízios até se misturar, no Inverno impetuosamente, ao Bestança.

        Depois da ponte velha de Alhões, a que os mais idosos ainda chamam de ponte Ana Loba, que tantas vezes fica submersa no Inverno, já o leito do rio se alarga e começam a aparecer os muros marginantes que mão humana construiu roubando à encosta alguma planura onde o feno pudesse crescer.

 

Vale do Bestança

 

       Os primeiros moinhos do Bestança encontramo-los na Costa Limpa imersos em densa e folhosa vegetação ou sombreados por grandes ramos de carvalhos que propendem sobre eles, quase os ocultando.

       O rio serpenteia por entre grossos blocos graníticos, cobertos de musgo amarelecido, que parecem querer desprender-se acompanhando a água no seu precipitado curso.

      Os moinhos da Bouça Velha situam-se na margem direita do rio implantados uns a seguir aos outros aproveitando alguns a mesma água que faz mover outros a montante. São cinco moinhos, todos de uma só mó. Nenhum deles opera. Estão entregues a um abandono total. O silvedo avança já quase impedindo o acesso ao seu interior.

       Quem desce a encosta de Soutelo encontra pela frente um cenário muito bonito, talvez um dos mais bonitos de todo o Vale. As leiras da Granja estendem-se em sucessivas ladeiras até encontrarem as águas límpidas do rio. Estão ora revestidas de um verde profundo ora cobertas de um amarelo esmaecido consoante a erva está viçosa ou a secar.

        Na margem direita, começam a aparecer algumas videiras e árvores de fruto. Na margem esquerda são mais evidentes os soutos que tanta castanha dão ainda e que outrora era aproveitada para a confecção das falachas ou para venda destinada à cidade do Porto sendo acarretada em dezenas de carros de vacas que chiavam, carregados, pelos caminhos até chegarem a Mosteirô, local de despacho.

        Depois da ponte o Bestança torna-se mais ruidoso quando tem de galgar as fragas de Penavilheira. A água precipita-se em três quedas sucessivas até atingir uma extensa laje deitada por onde corre turbulenta até voltar a cair para uma cachoeira onde se espraia e volta a encontrar alguma mansidão.

       No sopé crescem carvalhos alimentados pela água do rio e por uma levada que contorna as fragas transportando água para os lameiros.

       A vegetação da margem direita é áspera composta por giesta, tojo e pinheiro.
       Nas faldas de Chã já a vegetação é mais verdejante impondo-se os vastos campos de milho e extensas veigas de feno.

      Deixando a Chã, voltemos às terras fundas do vale onde encontramos o rio a correr manso aqui mais espreguiçando dada a largura das margens, agora ainda mais dimensionadas em virtude do esventramento que as águas fizeram dos campos que bordejavam o leito em consequência do desprendimento de terras que se abateram sobre o rio, impedindo o seu curso normal, desviando-o para zonas de cultivo que destruiu completamente. Aqui o rio corre entre muros. Uma obra notável, se nela atentarmos. São paredes levantadas desde o leito do rio, numa altura superior a três metros, e que marginam o Bestança ao longo de quilómetros, interrompendo-se por espaços para logo aparecerem mais abaixo suportando terrenos roubados à encosta para que pudessem ser aráveis.

       No Prado encontramos duas pontes de madeira que permitem a travessia sobre o ribeiro de Barrondes que aqui desagua no Bestança. Separadas por um grosso pilar em cujas pontas assenta o vigamento, têm catorze metros de comprimento. Ao lado fica o moinho onde os habitantes de Valverde vêm moer o milho e o centeio.

       O Bestança ganha aqui novo alento engrossado pelas águas de um dos seus maiores afluentes seguindo pressuroso o seu curso. As suas águas voltam a encontrar calmia no poço das Dornas onde se forma o maior açude natural do rio. A vegetação é densa sendo abundantes o freixo e o amieiro.

       Passando a ponte de Covelas o rio é represado no seu curso por alguns açudes donde partiam levadas que transportavam água para os moinhos e para as veigas.

 

Ponte de traça românica (Covelas) - Rio Bestança

 

       Antes de se despenhar nas fragas de Ganão a corrente cavou na margem direita uma furna que mais aprece a entrada para uma vasta gruta.

       Vistas de Enxidrô, as quedas, no tempo chuvoso, rugem com a braveza que ninguém julgava possível quando observadas no estio.

       Ao fundo das fragas um açude faz derivar a água represada por uma levada para os moinhos de Pelisqueira. A água da mesma levada faz mover a roda de dois moinhos distintos sendo depois devolvida ao rio.

      Os meandros do Bestança desenvolvem-se agora num curso mais calmo com as margens a serem mais distantes uma da outra e o leito mais largo. Abaixo das Poldras, onde desagua o ribeiro de Prelada, o leito é tão grande (50m de margem a margem) que no meio se formou como que uma ilha de vegetação rasteira vicejante e árvores frondosas que nascem entre as pedras. O rio, repartido em dois cursos, circunda-a voltando a encontrar-se onde começam a aparecer os moinhos da Mata e Bailadoiro.

       No poço das Aveleiras volta o rio a espraiar-se e a ganhar mansidão. Estamos já próximo de Pias. Nos campos cultiva-se o milho que é irrigado pelas águas do rio transportadas em levadas.

Em Pias, o rio avança o açude e lança-se pressuroso sob o arco da ponte que o atravessa. Ponte de cantaria belíssima construída no início do séc.XX, de arco perfeito, guardas de pedra lavrada, esteve seriamente em perigo em 1992 quando a quiseram ampliar no pavimento e remover as guardas substituindo-as por gradeamento de ferro. Opôs-se um movimento cívico que prenunciava já a constituição da Associação para a Defesa do Bestança salvando a arquitectura e harmonia da ponte que veio a manter a sua traça.

        O Bestança ganha nesta parte do seu curso um colorido que só existe nos meses do Verão quando as mulheres das povoações circundantes vêm lavar as mantas e roupas de variegadas cores nas águas corredias estendendo-as depois nas pedras ao longo do leito do rio esperando que sequem.

         Estamos já na parte  final do curso do rio que encontra o Douro em Souto do Rio.

        Se o Bestança nasce sob a protecção do Senhor do Amparo desagua sob a vigilância de Nossa Senhora do Sagrado Coração de Jesus que se acolhe em bonito templo da aldeia de Pias, sobranceira ao rio, donde domina o terminus do seu curso após quase três léguas de conturbada viagem.

 

 

 

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