Campanha Educativa Água
A água, a Terra e o Homem
Água e História
O homem primitivo facilmente terá reconhecido a sua forte dependência da água: primeiramente, para lhe matar a sede e, depois, para a utilizar na manufactura de produtos, utensílios e construções que lhe eram essenciais.
Sentiu também como o ambiente lhe poderia ser adverso em consequência de secas ou de inundações devastadoras. Não estando apto a aprofundar os conhecimentos sobre aqueles fenómenos, cedo terá passado a associar a água ao sobrenatural.
As sociedades primitivas terão escolhido, preferencialmente para se estabelecer, as proximidades de rios, que lhes facultavam água, alimentos e até defesa natural. Além disso, os rios proporcionavam vias privilegiadas de penetração em territórios a explorar.
Civilizações das mais adiantadas da Antiguidade floresceram nas planícies dos grandes rios: Amarelo, Tigre, Eufrates, Nilo e Indo. Nestas sociedades a água era amplamente usada para a rega, constituindo a produção agrícola o factor principal de desenvolvimento.
Outras civilizações sediadas em regiões sem rios de água abundante também basearam o seu desenvolvimento na água, sendo, porém, esta conseguida à custa de esforços monumentais. É o caso dos qanats no Irão, galerias de cerca de 0,70 m de largura e 1,00 m de altura, com desenvolvimento que atinge 70 km, utilizados desde o século V a.C. para captar água subterrânea. O comprimento total dos qanats do Irão excede a distância da Terra à Lua e o caudal total por eles captado é ainda na actualidade de 700 m3/s. O trabalho na sua construção é comparável ao das pirâmides no Egipto, mas sem o esplendor destas por se tratar de obras subterrâneas. A água, que era importante na vida destas sociedades, passou a estar omnipresente nas mitologias, associada a deuses e a divindades, e inspirou numerosas lendas.
O dilúvio aparece descrito com muitos aspectos comuns nas civilizações hebraica, grega, hindu, babilónia e inca.
As cosmogenias bíblica, babilónicas e fenícia explicam a nascença dos seres vivos pela acção da água e do vento.
Filósofos da Antiguidade Grega consideravam o Mundo originado a partir do Caos, constituído por quatro elementos fundamentais: água, terra, ar e fogo. Virgílio admitia que a água estava na origem de tudo: terra, homens e deuses.
Em ritos de religiões actuais a água aparece como agente purificador. Ainda no campo do abstracto, a água tem sido um tema rico para a Arte - pintura, musica e dança - e para a Literatura.
O Homem, desde há milénios, adopta medidas para utilizar a água e dominar os efeitos da sua ocorrência em excesso. Capta a água subterrânea em poços e minas e a água superficial nos rios, lagos naturais e albufeiras criadas por barragens, que asseguram a regularização do caudal.
Há muito que utiliza albufeiras também para dominar as cheias e criar, por deposição de sedimentos, solos aptos para cultura. A primeira grande barragem conhecida é a de El-Kafara, próximo do Cairo, construída há cerca de 4800 anos e precedida por varias pequenas barragens.
Para defesa contra inundações tem o Homem construído diques, e, para transporte da água, canais, aquedutos, túneis e condutas. Para elevar a água a ser utilizada ou para a retirar de zonas baixas, onde se acumulava causando prejuízos, construiu utensílios e máquinas hidráulicas.
Um dos primeiros utensílios terá sido um balde ligado a uma corda, mais tarde suspenso de um gancho e, depois, de uma roldana, por ser mais fácil exercer forca em sentido descendente do que no sentido ascendente. A picota (ou cegonha) ainda se encontra disseminada nos nossos campos.
Desde a Antiguidade Clássica, se utilizaram máquinas de elevação de água, como o parafuso de Arquimedes, a bomba de dois cilindros de Ctesibios, rodas de água (movidas por homens ou pela própria corrente de água), noras e sarilhos.
A forca motriz de origem hidráulica captada em rodas hidráulicas foi já usada para a moagem de cereais na Antiguidade Clássica, mas raramente.
Na Idade Media, as condições sociais e económicas determinaram a tendência para substituir o trabalho manual por máquinas accionadas pela água.
Nos séculos X e XI expandiu-se a utilização da roda hidráulica (vertical - a azenha - e horizontal - o rodízio). No século XIII, rodas hidráulicas funcionavam em toda a Europa e a sua utilização tinha-se ampliado para o esmagamento da azeitona e de sementes várias, para o apisoamento de fibras, tecidos, minérios e pecas metálicas e para o accionamento de foles de fornalhas. Há analogias entre este período e o da revolução industrial.
Nos séculos XIX e XX, com o desenvolvimento científico e tecnológico, o Homem passou a dispor de materiais, equipamentos e técnicas que lhe permitiram construir sistemas mais eficazes para a utilização e o domínio de grandes caudais.
A construção metálica, primeiramente de ferro fundido e depois de aço, permitiu obter equipamentos hidráulicos eficientes e condutas de grandes diâmetros capazes de resistir a pressões elevadas.
As turbinas hidráulicas e as bombas rotativas vulgarizaram-se na primeira metade do presente século, ao que esteve associado o desenvolvimento das tecnologias eléctricas. A produção de energia hidroeléctrica sofreu grande expansão, tendo contribuído para o desenvolvimento industrial de muitos países. O betão armado, difundido no início deste século, veio aligeirar e facilitar a construção de estruturas hidráulicas.
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